Panorama Histórico do Circo em Mato Grosso do Sul

Panorama Histórico do Circo em Mato Grosso do Sul
Da divisão do Estado aos anos 2000 – 30 anos de História

O jovem Estado de Mato Grosso do Sul, localizado no sul da região Centro-Oeste do Brasil, tem limites com Goiás ao nordeste, Minas Gerais ao leste, Mato Grosso ao norte, Paraná ao sul, São Paulo ao sudeste, Paraguai ao oeste e sul e a Bolívia ao noroeste. Ocupando uma superfície de 358.159 km² é ligeiramente maior que a Alemanha. Possui 78 municípios, 165 distritos e 2.336.058 habitantes (fonte: IBGE, 2008).

Predominantemente de clima do tipo tropical, com chuvas de verão e inverno seco, o território estadual é drenado a leste pelos sistemas do rio Paraná e a oeste pelo rio Paraguai. Os cerrados recobrem a maior parte do estado, com exceção e destaque para o Complexo do Pantanal. A planície do Pantanal, no oeste do estado, durante o período de cheias do Rio Paraguai, se transforma na maior região alagadiça do planeta, lá se combinam vegetações de todo o país, até mesmo da Caatinga e da Floresta Amazônica, e é um dos biomas com maior biodiversidade do Brasil.

A população de Mato Grosso do Sul tem crescido a altos níveis desde a década de 1870, mais é entre 1940 e 2008, que vemos o maior crescimento populacional do estado, devido em sua maioria pelos imigrantes oriundos dos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo e imigrações de países como Alemanha, Espanha, Itália, Japão, Paraguai, Portugal, Síria e Líbano. O estado é o segundo do Brasil em número de habitantes ameríndios, de várias etnias, entre elas, Atikum, Guarany [Kaiwá e Nhandéwa], Guató, Kadiwéu, Kamba, Kinikinawa, Ofaié, Terena, Xiquitano. O grande número de descendentes de ameríndios e de imigrantes paraguaios, que em sua maioria têm como ancestrais os índios guaranis, são dois fatores que contribuem para a alta porcentagem dos chamados "pardos" na população do estado de Mato Grosso do Sul. Já a ascendência afro-brasileira desse grupo étnico não é tão numerosa quanto a indígena. Fato fundamental e característico que marca a fisionomia da região (fonte: FUNAI, 2008).

A economia de Mato Grosso do Sul está baseada na produção rural, indústria, extração mineral, turismo e prestação de serviços, com infra-estrutura e localização geográfica favorável para o estado exercer o papel de centro de redistribuição de produtos oriundos dos grandes centros consumidores para o restante da região Centro-Oeste e a região Norte do Brasil. Vizinho dos maiores centros consumidores do Brasil, (Minas Gerais, São Paulo e Paraná), faz ainda fronteira com dois países sul-americanos (Bolívia e Paraguai), uma vez que se situa na rota de mercados potenciais de toda a zona ocidental da América do Sul e se comunica com a Argentina através da Bacia do Rio da Prata, dando também acesso ao oceano Atlântico e ao Pacífico através dos países andinos, como Bolívia e Chile.

Possui distintas e peculiares belezas naturais, sendo rico em flora e fauna. Entre outros se destacam os principais atrativos turísticos:
· Complexo do Pantanal: maior área úmida contínua do Planeta é um santuário ecológico que abriga a maior diversidade mundial de fauna e flora. Abriga 650 espécies de aves, 240 espécies de peixes, 50 de répteis, 80 de mamíferos, além de uma imensa diversidade na flora que abriga pastagens nativas, plantas apícolas, comestíveis, taníferas e medicinais.
· Serra da Bodoquena: onde se localiza Bonito, santuário ecológico de solo calcário, responsável pela cristalinidade dos rios. Região conhecida pelas grutas, cachoeiras e corredeiras.
· Comércio fronteiriço: Ponta Porã, Bela Vista, Corumbá e Porto Murtinho são cidades que fazem fronteira e possuem zonas francas.
· Aquifero Guarani: é o maior manacial de água doce subterrânea trasfronteiriço do mundo e sua maior ocorrência se dá em território nacional e principalmente em Mato Grosso do Sul. Este reservatório de proporções gigantesca é formado por derrames de basalto ocorridos nos Períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo Inferior (entre 200 e 132 milhões de anos) e constitui-se em uma importante reserva estratégica para o abastecimento da população, para o desenvolvimento das atividades econômicas e do lazer.

A linguagem, as crenças, os costumes, as cerimônias, a conduta, a arte, a culinária, a moda, o folclore, os gestos, o modo de vida, o local onde se situa, o meio ambiente, a economia e tantas outras nuances das várias culturas que aportaram no sul de Mato Grosso formam hoje a Cultura Sul-matogrossense. A cultura local é uma mistura de várias contribuições das migrações ocorridas em seu território. Arroz de carreteiro, Guariroba, Chipa, Puchero, Quibebe, Sobá, Sopa paraguaia e Saltenha (pratos), Caldo de piranha, Licor de pequi, Sorvete de bocaiuva, Chimarrão e Tereré (bebidas), Viola-de-cocho, Trem do Pantanal (símbolos), Guarânia, Chamamé, Cururu, Siriri, Vanerão e Polca-rock (músicas), Revirão, Caranguejo, Catira, Engenho, Sarandi, Siriri e Cururu (danças), entre outros, são além de palavras, costumes típicos locais e fazem parte da atividade diária da população, seja em pequenas ou grandes comunidades, povoando o imaginário e formando a identidade sul-matogrossense.

A Arte, parte da cultura do estado novo, é como seu próprio povo: mestiça. Peculiarmente cultuada em sua origem e marcada pelo forte regionalismo, esta arte se manifesta timidamente no cenário nacional, apesar de abastecer satisfatoriamente a necessidade local. Música, Cultura Popular, Artes Visuais, Dança, Teatro, Cinema e Circo, respectivamente, compõem as principais manifestações artística do estado.

A história do circo no estado é recente como o próprio estado. Considerando a divisão um marco que além de questões econômicas visou o crescimento e fortalecimento das culturas, podemos identificar neste contexto momentos distintos da manifestação do circo na região.

A origem se dá ainda quando a região era do estado de Mato Grosso. Neste período assim como ainda hoje, esta região era rota de comércio, importação e exportação, o que favorecia a passagem de grandes Companhias de Circo do país e dos países vizinhos principalmente. Relata-se deste período a visita do Palhaço Carequinha aos hospitais da cidade de Campo Grande, hoje capital do estado. Os pequenos, médios e grandes circos foram palcos para apresentações de artistas circenses tradicionais e também artistas de destaque e renome nacional como Os Trapalhões, Gaucho da Fronteira, Milionário e José Rico, Délio e Delinha, Helena Meirelles entre tantos outros, inclusive os locais que ganharam projeção, público e oportunidade de trabalho. A cultura local nascia juntamente com a manifestação circense ou por sua influência. Casos como estes são os dos artistas Rubens Correa, Júlio Alvarez, Américo Calheiros e Emanuel Marinho. Fato marcante ainda neste período foi a fixação do Circo Brasília do Carlão “Palhaço Pasta Chuta”, e sua super estrela e instrumentista a Srta. Maira Silva na cidade de Aquidauna. Este circo resistiu e perdurou o antes e pós divisão, descobrindo projetando e revelando talentos locais. Talvez tenha começado alí a história do Circo e dos artistas circenses do estado novo.

No período da divisão os pequenos circos vindos de São Paulo e Paraná assumem o fluxo e periodicidade das temporadas circenses. Estes circos eram palco tanto para apresentações circenses quanto para apresentações musicais e teatrais. Os Dramas (peças de teatro de picadeiro de cunho moral), e as Violadas eram constantes, conhecidas do público e esperadas como parte do espetáculo. A maioria deles com lonas de 2 mastros, alguns de pano de roda e poucos de 4 mastros, aportavam nas pequenas cidades com atrações genuinamente circenses, animais domésticos e atrações oriundas do Paraguai, Bolivia e Argentina, além de muitos cantores nacionais da musica sertaneja principalmente.

Os grandes circos, das tradicionais famílias circenses, principalmente as brasileiras apresentavam seus espetáculos nas maiores cidades como a capital Campo Grande, Dourados, Corumbá, Três Lagoas e Aquidaunana, enquanto as pequenas companhias levavam seus circos de palco a maioria das cidades do estado. Acredita-se que a abertura do novo estado tenha propiciado a entrada desta companhias pequenas e que tenha ocasionado a fixação de algumas delas que até hoje atuam profissionalmente em Mato Grosso do Sul, como a Família Perez em Campo Grande, a Família Faquime em Naviraí, o Mágico Tabajara e sua família em Campo Grande, e a genuinamente sul-matogrossense Família Barros do Palhaço Miquim e sua esposa contorcionista Sandra Barros, que hoje tem em sua filhas Karem Perez e Bruna Barros a esperança e continuidade da atividade circense na família, uma vez que não atuam mais.

A década de 80, marcada pela arrancada política de MS, é também palco para a resistência de famílias como Os Perez, artistas como o Mágico Tabajara, Palhaço Chupeta, Palhaço Goiabinha, Palhaço Peninha, entre tantos outros anônimos que atuaram pela região. No entanto a boa sorte não estava a favor da Família Faquime, que vendeu seus circos e cinemas por não conseguir mantê-los empresarialmente. Esta Família talvez tenham sido a pioneira em cinema e circo mambembe no estado, sem muitos vestígios suas lembranças, fotografias e história remontam a décadas passadas, artistas internacionais e sucesso de público. Vindo de outro estado, de outros países, filho de mãe circense o Mágico Tabajara é conhecido nacionalmente, e trabalhou ao lado de grandes nomes como Silvio Santos e Xuxa, sua longa carreira passa por grandes e pequenos circos, circos de pano de roda, programas de auditório e rua onde tudo começou. Reside e trabalha atualmente em Campo Grande, onde se apresenta com seu show de magia ao lado de sua filha Najara (contorcionista e equilibrista). Já a Família Perez, formada pelo casal Vitor Perez e Sueli Perez, ela bisneta dos tradicionalissimos Stankowitch, e ele filho da Grande Estrela, Cantora e Bailarina Vedete de Grande Othelo Srta. Thelma del Sol e o Premiadíssimo Mágico José Roberto Perez Málaga Ponce de Leon a Dragon de La Barca, o “Leocham”, chegaram a Mato Grosso do Sul oriundos dos estados do sul onde trabalhavam e residiam, e aqui constituíram sua família, dando continuidade a história de seus pais, ela do circo Stankowitch (sua família de origem Austríaca) e ele do circo Mexicano (circo de propriedade de seu pai). Foi em Aquidauana que compraram o circo do então Carlão (o antigo circo Brasília) e formaram o Circo Real do Pantanal-O Circo da Família Perez. Atuam e residem em Campo Grande, onde “dão espetáculos” (expressão circense) periodicamente nos bairros da capital e entorno.

Na década de 90, os artistas circenses brasileiros resgatam e redescobrem a arte circense nacional. Frases como “Não deixe o Circo morrer” e “Vá ao Circo” eram empunhadas a todo momento em campanhas promoções e manifestações artística. Fenômenos como o Canadense Circo de Soleil resultaram positivamente para o fortalecimento e divulgação da atividade circense que saiu dos espaços tradicionais para as ruas, escolas, clubes, festas, cerimoniais e até mesmo lares, entre outros. Chegou a todas as partes do mundo como Circo Novo, Circo Ópera, Circo Show. De fato essa nova forma de encenação do espetáculo circense, com diálogo direto como teatro a música a ópera a dança e as artes visuais dividiu a história do circo em Circo Tradicional (espetáculos de números isolados com apresentações de animais ou não) e Circo Novo (espetáculos de números em enredo sem apresentações ou presença de animais).

Influenciados pelo novo circo e de fato encantados com suas possibilidades e hibridismo de linguagens, os artistas sul-matogrossense do Grupo Ubu, Anderson Bernardes, Marcelo Silva, Mauro Guimarães, Nola Casal, Ulisses Nogueira e Estefânia Bueno, incentivados pela Fundação Municipal de Cultura através do então Gestor Cultural Sr. Américo Calheiros, partiram para a cidade do Rio de Janeiro a fim de aprender a arte circense na Escola Nacional de Circo da FUNARTE. Retornaram já nos anos 2000, cada a um a seu tempo e disseminaram no estado a nova forma do trabalho circense. Entre cursos ministrados e apresentações conquistaram espaço, trabalho e respeito do público local. Foi a partir do trabalho destes artistas que o circo de troupe e manifestações individuais independentes tomaram-se parte da cultura e arte locais. Posteriormente cursaram o período de reciclagem da Escola Nacional de Circo os Artistas Sul-matogrossense Marcos Moura, Rane Abreu, Aline Duenha e Larissa Viana Câmara.

Já nos anos 2000 instalá-se em Campo Grande a Casa Teatro Circo, um espaço de investigação e encenação de espetáculos de teatro e circo de propriedade dos artistas Anderson Bernardes, Aline Duenha, Marcelo Silva e Mauro Guimarães. Foi nesta casa que encenou-se “Cunversas e Causos de Baianópolis” um espetáculo híbrido de palhaços com diálogos diretos entre o teatro e o circo; foi alí também a temporada do primeiro espetáculo de circo novo do estado “O Circo do Pé de Árvore” e em seguida “O Palhaço no Meio da Rua”, um genuíno espetáculo de palhaços. A Casa Teatro Circo ainda hoje é referência em teatro e circo no estado e região e desenvolve diversas atividades, entre elas formação, projetos sociais, apresentações de espetáculos e prestação de serviços em festas e eventos com performances e pequenos números de teatro e circo.
Em Dourados surge o Coletivo Robin Hood de Artes a partir de experimentos, troca de experiência e contato com artistas de rua, artistas circenses independentes e oficinas livres. Com espírito experimental os artistas do Coletivo de Artes tomaram de assalto as ruas e bares da Grande Dourados e são hoje referência desta atividade na cidade. Destaca-se ainda o projeto social ministrado por Fabricio Moser na aldeia indigna Jaguapirú e Bororó.
Em Corumbá o Grupo de Teatro Maria Mole de Bianca Machado cria diversos espetáculos híbridos de teatro e circo a partir do contato e instrução do circense Ary Para-Raios. Posteriormente O Grupo Maria Mole (teatro) e a Cia da Lona (circo) de Aleksandra Vieira Batista, a “Branca”, lançam o projeto “Navegando no Rio dos Sonhos” que teve repercussão nacional e perdura até hoje com sucesso e continuidade. Este projeto Espetáculo dirigido por Aleksander Vieira Batista, conta em cada edição com artistas convidados de todo o estado de Mato Grosso do Sul.
Em Aparecida do Taboado, iniciado pela Casa Teatro Circo, surge o núcleo circense na Cia Divino Covil de Artes Cênicas. Com palhaços, pirofagistas, equilibristas e acrobatas de aéreos, este grupo difundiu e se tornou atração e referência de circo na região do Bolsão Sul-Matogrossense. Atualmente trabalham com espetáculos híbridos e números isolados de circo.
Em Itaquiraí o circense Iung, além do seu papel de artista, mantém, o projeto social de circo.... da prefeitura municipal onde além de ensinar técnicas, monta espetáculos circenses com os alunos artistas.
Em Nova Andradina, influenciados pela Casa Teatro Circo surge o Grupo Saltimbancos dirigido por Marta Guimarães e Levi Batista trabalhando com intervenções na região do Vale do Ivinhema, destaca-se alí o trabalho de “Circo-conhecimento” desenvolvido na APAE pela artista e professora Marta Guimarães.
Em Bataíporã a Família Orteney, tradicional de circo, retoma as atividades de seus antepassados. A chácara Orteney, onde realizam seus trabalhos e treinamentos é uma mistura de campo e circo, onde até mesmo as árvores dão lugar a trapézios, cama elástica e argolas. Aparelhos circenses e natureza dividem armoniozamente o ambiente artístico e mágico do local.

O Circo no estado de Mato Grosso do Sul, tradicional ou novo, cresce a cada ano como a sua população e público. Com artistas independentes, troupes, grupos e famílias, a manifestação circense no estado é intensa e constante.

O Panorama Histórico do Circo em Mato Grosso do Sul, relata sinteticamente o que foi e o que é atualmente esta arte no estado e relaciona os artistas circenses fazendo conhecer seus nomes, suas habilidades e contato, sejam eles tradicionais, de troupe, grupos, independentes ou de rua, residentes no estado:

Fontes: Sigrist, Marlei-"Chão Batido"-Editora UFMS-Campo Grande MS / IBGE / FUNAI / "www.wikipedia.org/wiki/Cultura_de_Mato_Grosso_do_Sul" / Rosa, Maria da Glória Sá e ...-"Memória da Arte em MS - Histórias de Vida" "-Editora UFMS-Campo Grande MS / Castro, Alice Viveiros de-“O Elogio da Bobagem-Palhaços no Brasil e no mundo”-Editora Família Bastos-Rio de Janeiro RJ / Sanches, Anderson Bernardes e Mauro Alves Guimarães “Arqueologia do Circo no Estado de Mato Grosso do Sul”- Casa Teatro Circo - Campo Grande MS / Pesquisa de Campo realizadas nas cidades de Ponta Porã, Sanga Puitã, Dourados, Glória de Dourados, Naviraí, Itaquiraí, Nova Andradina, Bataíporã, Três Lagoas, Aparecida do Taboado, Corumbá, Terenos e Campo Grande.